Do Zero ao Topo: Gilberto Manteiga
Um negócio que começou por demanda do irmão e se transformou em um conglomerado com fábrica, rede lojas e reflorestamento. Essa é a história da MGA Moveleira, que hoje está na segunda geração dos Manteiga

Gilberto Manteiga cresceu na roça no interior do Paraná, foi para São Paulo ainda adolescente, onde cursou administração e contabilidade e se tornou executivo de uma grande empresa antes dos 22 anos. Foi com essa idade, em 1979, que aceitou o convite do irmão, marceneiro na época, para se tornar sócio da empresa que fabricava móveis sob encomenda.
Quando perguntamos se tinha o sonho de empreender ou de trabalhar com marcenaria, Gilberto admite que aceitou o convite mais para atender o pedido do irmão do que por alguma convicção. “Ele era marceneiro e queria abrir sua própria marcenaria. Então, convidou a mim e meu cunhado para começarmos o negócio juntos. Não tínhamos muito capital, mas juntando o que tínhamos deu para começar. No início mantive o emprego e atuava como representante de vendas, mas dois anos depois a empresa cresceu e decidi me dedicar integralmente ao nosso negócio”, recorda, acrescentando que trouxe seu perfil agressivo (que era favorável às vendas) e seus conhecimentos financeiros para a marcenaria.
“Sempre estudei muito e analisava cuidadosamente a gestão financeira, o que era (naquele tempo de inflação alta) um diferencial da empresa”, recorda Gilberto.
Um novo momento
Em 1993, com o fim amigável da sociedade e 50 funcionários para manter, Gilberto vislumbrou uma nova oportunidade: fornecer estruturas de madeira para outras empresas dos segmentos de colchão e automotivo. E com os retalhos de madeira que restavam da produção, vislumbrou mais uma frente de negócio: a fabricação de móveis em série para grandes redes de mobiliário e acessórios, inclusive redes de casa e construção.
O negócio evoluiu e, em 1997, convicto de que ideias devem ser abraçadas ainda que envolvam significativos riscos, abriu mão da marcenaria e passou a concentrar-se exclusivamente na produção de móveis seriados. Neste mesmo ano transferiu a fábrica da capital paulista para Itapetininga. “Mudamos para o interior para reduzir custos, concentrar a produção em um só local, já que em São Paulo tínhamos duas unidades, mas também para garantir mais qualidade de vida para a família”, pontua Gilberto.

Com muitas novidades chegando ao Brasil, o novo centro fabril em uma área total de 50.000 metros quadrados, representava a oportunidade perfeita para inovar. Acompanhando os lançamentos mundo afora, e com uma mente bastante criativa, Gilberto foi construindo reputação também no quesito inovação. Pela MGA, lançou a primeira cama box do Brasil e outros modelos que transformaram o mercado, como a cama com gaveta, o modelo com baú e a bicama. Conhecido e respeitado entre lojistas e fabricantes de colchões no estado de São Paulo, em 2005 começou a ponderar que, se era bom em fazer a base, poderia ser bom também fazendo toda a cama, incluindo o colchão.

E um ano depois começou a estofar as estruturas de camas box de madeira para vender aos lojistas. E dois anos mais tarde comprou uma fábrica de espuma e passou a produzir colchões.
Mas nem sempre o mercado responde imediatamente às expectativas e, com as vendas crescendo menos do que o esperado, o empresário resolveu abrir uma loja. Em 2010 nasceu a Prohouse, um nome mais comercial do que MGA. No ano seguinte começou a licenciar a marca e, quatro anos depois, já tinha 15 unidades em operação no estado de São Paulo.
Com crescimento a um ritmo de 50% ao ano, pensando estrategicamente decidiu trocar o sistema de licenciamento por um modelo de negócio mais seguro para estruturar a operação, e em 2015 Gilberto optou pelo modelo de franchising, transformando todos os licenciados em franqueados da nova rede de colchões.

De forma mais estruturada, lançou a franquia Prohouse, que hoje conta com 10 unidades próprias e outras 53 no modelo de franquia. Na sequência, lançou na capital paulista a flagship da marca, maior e com novo layout, trazendo ainda mais identidade à proposta da marca.
Para sustentar com solidez os planos de hoje da Prohouse, de crescer sobretudo para outras cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná, Gilberto deu um passo muito importante 20 anos antes. Na época, percebendo que poderia haver um apagão de madeira, começou a plantar a própria matéria-prima. Comprou terras próximas a Itapetininga e criou uma floresta de eucalipto para abastecer seu negócio. Hoje, a capacidade produtiva de madeira tem condições de atender à demanda da fábrica, que destina mais de 50% da produção para as lojas próprias e a outra metade para o mercado multimarcas e magazines.
Sustentabilidade e associativismo
E a preocupação com sustentabilidade não está apenas no plantio de floresta, mas em várias iniciativas como o uso de energia solar, captação de água da chuva, reciclagem de lixo e reaproveitamento de materiais na produção. Desta forma, sobras de madeira e flocos de espuma reaproveitadas viram pufes.

Gilberto, que também é membro atuante na Abicol, pontua que colocou dois colaboradores para participar do curso Trilha ESG – Um Caminho sem Volta, desenvolvido pelo Instituto Impulso em parceria com a entidade.
Aliás, a atuação junto a associações e sindicatos tem sido uma constante na vida de Gilberto Manteiga, que recorda já ter participado da diretoria da CIESP/FIESP, Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Sindicato Patronal, entre outras entidades.
Sempre sem descuidar da gestão da empresa e aproveitar cada oportunidade que surgisse. Foi assim quando buscou o licenciamento das marcas americanas Eastman House e Eclipse, motivado pela demanda de lojistas. “Essa parceria que já dura 10 anos, nos permite acesso a novas tecnologias e tendências e ajuda a fortalecer nossa presença no mercado”, destaca.
Sucessão familiar

Gilberto sempre contou com a parceria da esposa Márcia nos negócios e, com o tempo, os filhos vieram se juntar a eles, mas garante que tudo foi um processo natural. “Sempre deixamos os filhos à vontade para escolherem suas carreiras. Meu filho Márcio, o mais velho, se formou em engenharia industrial madeireira, se pós-graduou em administração e MBA em gestão financeira, e depois de passar por algumas experiências no mercado de trabalho, entrou na empresa. Thariel, o mais novo, e que tem formação em ciências da computação, pós-graduação em administração e MBA em marketing, também se juntou a nós depois de trabalhar em outra empresa. Hoje é CEO da Prohouse”, destaca.
Sucessão consolidada?
Gilberto acredita que os filhos vão expandir os negócios da família. “Ainda atuo diariamente na empresa e passo tudo o que sei a eles, penso que está sendo processada uma sucessão tranquila e natural”, completa.
“Nosso crescimento foi orgânico, financiado com recursos próprios”
Hoje a MGA conta com 15 mil metros quadrados de área construída e 300 colaboradores entre fábricas e lojas. “Nosso crescimento foi orgânico, financiado com recursos próprios”, comemora o empresário.
Encontrando oportunidade em cada cavaco de madeira ou sobra de espuma, Gilberto Manteiga realizou mais do que podia sonhar o garoto do interior, além de ser o pai da cama-baú, da cama com gaveta e da bicama, com certeza seu maior legado é ter passado aos filhos o amor pelo trabalho e o respeito com cada cliente, seja da fábrica ou das lojas, e mostrar aos empreendedores, principalmente os mais jovens, que não importa sua origem, com dedicação e determinação, tudo é possível de se alcançar.
Justificado, portanto, contarmos aqui a história de Gilberto Manteiga, um paranaense que chegou do zero ao topo.